Atire a primeira pedra quem acha que não tem medo de nada. Duvido! A gente pode não reconhecer, pode desconversar, mas basta meia hora de conversa pra se confessar, “à boca pequena”, o desconforto (ou medo?) de alguma coisa.
Tive uma amiga que tinha calafrios diante de… uma blusa de lã com bolinhas! Isso mesmo. Usar, ela JAMAIS o faria, mas se ficasse perto de alguém com uma tal blusa assim meio desmazelada, ela começava a suar frio. Era incontrolável! Disse-me que na sua imaginação já se via vestindo tal coisa, sentia os braços coçando, a boca ficando seca, o suor frio na testa… precisava com urgência sair de perto de quem usasse tal roupa.
Outro amigo era um apavorado com cachorros. Podia ser o chihuahua mais fofinho, o mais risonho dos Golden retriever, o bicho podia estar no colo da mais simpática das vovós, mas trauma era trauma! O amigo travava, fugia, se escondia da criatura que lhe inspirava tamanho pavor.
Bem, se estou confidenciando traumas alheios, devo confessar o próprio: fico muito incomodada, muito ansiosa, muito desarvorada quando tenho de caminhar na multidão. Gente demais me dá calafrios! Perco o foco, começo a tremer e a salivar. Tenho essa reação há tempos, desde que era criança… por isso, sempre me vi arrumando desculpas para sair assim, em grupo, no meio de tantos.
Show de rock? Não gosto da banda. Compras de Natal no shopping? Acerto-me com a lista de presenteados pelo menos um mês antes da data. Passeata? Protesto? Minha solidariedade é longínqua, em pensamento, mas nunca em corpo presente, na rua.
E daí? Daí que reconhecer os medos facilita a cura, pelo menos é o que dizem alguns manuais de ajuda. Então tá. Reconheço meu incômodo com a excessiva presença humana. E você? Será que reconhece seu medo de altura, por exemplo? Comer perto de gordo? (Juro! Uma amiga magrela NUNCA sentava perto de gente mais gorducha, daqueles que adoram se melar de catchup quando mordem um sanduíche). Perdia o apetite.
A ideia é essa, reconhecer os próprios descompassos. Tudo pra se ir levando…
E torcendo pra não ter de encarar um jogo no estádio, na mais alta arquibancada. Aí, nem com o melhor time do coração dá pra segurar a ansiedade.