Acordei hoje lembrando de uma fábula: um escorpião queria atravessar um lago e pediu ajuda ao sapo.

Ele reagiu: “Poxa, escorpião, não dá! E se no meio da travessia você resolve me morder?”. O escorpião respondeu: “Não vou fazer isso! Se eu o picar, vou morrer também”. O sapo achou que aquilo tinha lógica, colocou o escorpião nas costas e começou a nadar. No meio do lago, sentiu a ferroada fatal. Envenenado, quase morrendo, o sapo perguntou ao escorpião: “Por que você fez isso? Eu morro, mas você também morre comigo”. A resposta do escorpião: “Porque é da minha natureza”. E se afogou.

Diante da epidemia de COVID-19 muita gente age igual o escorpião: é da minha natureza não respeitar ordens, mesmo que lógicas…

Sabemos que a quarentena é a maneira mais eficiente de evitar o contágio e MESMO ASSIM as pessoas dos bairros populares fazem festa na rua sem usar máscara, convidam amigos pra churrasco, vão a bailes funk… Se for de classe média, a pessoa lota o carro com a família e tenta furar bloqueios das estradas pra ir à praia… entra no mar, compra quitutes, toma caipirinha, deixa a criançada se refestelar na areia fazendo castelinho… se tiver mais grana e gostar do jogo, vai a salas ou cassinos clandestinos, onde fuma, se serve do buffet free e manuseia máquinas de caça-níqueis ou roleta ou poker, mais ou menos higienizadas… por quê?

Por que é da nossa natureza? Por que as pessoas SEMPRE preferem pensar que “isso não acontece comigo”, “é perigoso pra velhinhos e pra gordos”, “não vou pegar a doença porque Deus/São Jorge/Xangô/Alá/Nosso Senhor do Bonfim/Buda ou o escambau a quatro vai me proteger”?

Porque, se não se proteger, a gente não é escorpião. Vira sapo.

E sapo morre.