A vida imita a arte ou vice-versa?
Sempre me fascinei com a improvável simultaneidade entre fatos reais e obras de arte, o modo como o destino faz coincidir elementos que pareceriam bizarros, “coisa de filme” (ou de livro), mas não factíveis de acontecer “na vida real”.
Foi exatamente isso que aconteceu neste ano de 2025 entre a coincidência de haver na lista de best-sellers o romance O CONCLAVE, de Robert Harris e a convocação de um conclave após a morte do papa Francisco, em 21 de abril. A situação ainda se avolumou em destaque com o fato de haver a versão cinematográfica do livro, dirigida por Edward Berger. Para tornar a coincidência mais palatável, o filme contou com a indicação de Ralph Fiennes para o Oscar de Melhor Ator e de Isabella Rossellini, para Atriz Coadjuvante. Infelizmente, nenhum deles levou o prêmio.
Acontece que o destino, um mês depois do Oscar, deu o prêmio grande para a obra: com a morte do Papa Francisco, a necessidade de se convocar um conclave estava na ordem do dia. Esse fato renovou o interesse pelo livro de Robert Harris, que ficou semanas nas listas de best-sellers. Idem para o filme: nos streaming, O CONCLAVE também liderou a audiência.
Em ambas as versões, livro e filme, O CONCLAVE aborda o dilema do cardeal Lawrence, encarregado de organizar a reunião de párocos que devem eleger o novo papa e dividido entre essa tarefa e os seus próprios problemas, entre eles a crise de fé. No filme, a interpretação contida e tensa de Ralph Fiennes dá alma a um homem disciplinado e obediente aos dogmas religiosos, mas que se revolta com a ideia da escolha de um papa extremamente conservador, o que acarretaria um distanciamento entre a sociedade e a igreja católica.
O livro é mais detalhista quanto às características dos diversos segmentos da igreja, seja dos grupos conservadores ou progressistas, suas ideias e posições. O processo de eleição também é minuciosamente descrito.
A ficção se revelou mais emocionante (e até bizarra) do que a realidade, que foi a escolha do cardeal Prevost como papa, um norte-americano que também desenvolveu longo trabalho social no Peru. Foi um nome de consenso e de conciliação. Já a ficção seguiu por caminhos diferentes… o conclave do livro de Robert Harris extrapolou os parâmetros convencionais, foi bem mais longe que uma ficção com toques de suspense e de fé. O desfecho é surpreendente pelo segredo da condição física do cardeal favorito para ser eleito o novo papa.
Confesso que devorei o livro O CONCLAVE e me fascinei com o desfecho empolgante. Então, ao ver o filme, já conhecia a “surpresa” que aguardava o espectador; porém a interpretação de Fiennes me cativou, muito além do enredo: foi um prazer acompanhar o dilema e os questionamentos do cardeal Lawrence.
Fica a dica: quem quer apostar numa leitura prazerosa, que teve o grato momento coincidente com a eleição de um novo papa, leia O CONCLAVE, de Robert Harris. E também assista ao filme.